terça-feira, 21 de agosto de 2018

A camomila deseja falar com as Mulheres!!!








Como mulher e pesquisadora, cada vez mais impressiono-me com a camomila. Como a perdemos? Foi em um longo processo de desestruturação e silenciamento histórico de nós mulheres e, por tabela, da erva que mais nos simboliza e retrata nossa fisiologia: a camomila! Apagar a camomila da história, construindo a ideia de que ela serve, apenas, para acalmar bebês e dar colo a todos é nos trancar nesse lugar de cuidadoras do mundo e não, exatamente, de nós mesmas.

Como mulher, me reviro pensando como nos permitimos ser tão solapadas ao ponto de nos perdermos e esquecermos nossa própria natureza. Não só as mulheres, mas os homens também, que ao embarcar nesse ódio pelo feminino e no silenciamento das mulheres, perderam a sua força e seu direito de sentir. Como pesquisadora, pego-me pasma em analisar quantas pesquisas não são realizadas sobre a fisiologia feminina. Vide que apenas recentemente o mundo acadêmico começa, timidamente, a estudar o clitóris e os mecanismos do prazer feminino, por exemplo, enquanto nossos corpos, na história, foram pesquisados apenas para dados de concepção e contraconcepção e em um formato muito agressivo e invasivo, pouco preocupado com nossas vidas e percepções. A indústria cosmética e farmacêutica passou o século XX nos entupindo de anticoncepcionais violentas e produtos de beleza que retiram/ apagam o nosso cheiro natural, o ‘’cheiro diabólico e sujo da mulher’’, como já escrevi aqui nesse texto sobre o cheiro natural da “pepeka’’.

Cheiro de vagina, de menstruação e das emanações do corpo feminino têm tudo a ver com a camomila e nossas ancestrais de forma intuitiva e farejadora já sabiam disso. Digo farejadora, pois, em meus estudos, tenho avaliado como o processo intuitivo e sensorial da mulher, o que esbarra em sua forma sociocultural de estar no mundo e experienciá-lo, está associado ao sistema olfativo (há dois artigos meus sobre a mulher farejadora e a mulher selvagem). A camomila nos retorna a este processo de mulher-farejadora/ selvagem do qual fomos desligadas pela sociedade patriarcal, surrupiadora de nosso lugar investigativo e sensorial, e as mulheres que ousam, de alguma forma adentrar neste local, muitas vezes sentem-se culpadas e nem entendem o porquê, como já divaguei no artigo “Mulheres da Camomila: a libertação da culpa’’.

Pois bem, apesar de ser uma farejadora, eu amo dados científicos e convivo muito bem na ponte entre esses dois saberes (mulher pode tudo!). Sobre a camomila, o professor Bret Howrey, da University of Texas Medical Branch, realizou uma pesquisa de sete anos entre pessoas de origem latina no Estados Unidos. Ele observou que mulheres retomaram a saúde e apresentaram aumento na expectativa de vida com o uso diário do chá da camomila, enquanto no sexo masculino a planta não fez diferença alguma, assim como nas mulheres que não beberam o chá e foram utilizadas como controle para a pesquisa. Dr Bret Howrey não soube explicar o ‘’fenômeno” da camomila nas mulheres, mas seus dados que comprovam a eficácia da mesma estão abertos ao mundo acadêmico. Eu também não tenho como explicar o fato cientificamente, no entanto, historicamente, tenho analisado que o silenciamento dessa erva ocorreu simultaneamente com o silenciamento das mulheres na sociedade. Camomila era utilizada desde a Idade Média (dentro do que posso comprovar em minha área) pela população feminina, curadoras, erveiras, parteiras. Inclusive, deve ter sido por essa ligação tão forte com as mulheres que ela tenha recebido o nome oficial de matricaria, que significa útero e, como já venho escrevendo, a palavra “útero’’ designava muito mais do que o órgão como o conhecemos na medicina atual, e sim, englobava todo o sistema feminino e suas emanações.

Quero que pensemos além dos termos técnicos para a camomila como o fato dela ser emenagoga ou antiinflamatória. Analiso que essas aplicações sejam apenas consequências de tudo o que essa planta é em sua concepção energética e na medicina ‘’popular antiga’’ (para ser bem redundante e apontar de forma exagerada as nossas ancestrais).

Dr Bret Howrey achou o fato curioso, eu, nem tanto! Sinto o cheiro de silenciamento e precisamos voltar a farejar (porque não basta cheirar) a camomila.

Fonte-Palmira Margarida.